(Des)Família.
Uma coisa é certa, todos pronunciam que "é suposto uma família ser unida, ser cordial e se dar bem". Até aqui todos são unânimes na afirmação. Mas deixem-se de filmes.
O caso muda de figura quando se entram nos atalhos e nos detalhes.
A família afinal não é assim tão rosa quanto se pinta, tão verdadeira quanto se dizem ser, nem tão unida quanto transparecem.
A família é um defeito natural que a vida nos dá.
Certamente não será só a minha nem a do meu vizinho, nem a do meu colega de trabalho, nem a do taxista, nem a do carteiro, as únicas famílias desajeitas, mas que na hora da verdade lá estão eles todos aprumados para a fotografia.
A família é, muitas vezes a pedra no sapato, o transtorno, o desassossego, a inveja e a incompatibilidade.
Quantas vezes já precisamos de uma palavra amiga, de um abraço ou de um incentivo? E recebemos criticas desmoralizadoras. (Ao menos deixem-se estar calados)
Quantas vezes te lembras das brincadeiras com os teus primos, daquela união inquebrável? E hoje nem sabes onde eles vivem. (É da maneira que não tenho de enviar postal de Natal)
Quantas vezes ligaste ao teu tio para desabafar sobre as reações do teu pai, quantas vezes lhe disseste que a presença dele era fundamental? E hoje nem se falam. (Está visto que só queria fotos para o Hi5)
Quantas vezes foste a companhia do teu avô nos fins-de-semana, nas compras do supermercado ou até mesmo nas férias? E hoje nem pergunta por ti. (Não queria aturar a minha avó, sacana!)
Diz-me! Quantas vezes foste porto de abrigo e ombro de lamentações, quantas vezes partilhaste a tua cama, os teus brinquedos e os teus livros, quantas vezes foste usada para desculpas?
Quantas vezes fizeste e quando precisaste ninguém lá estava?
Grande parte das vezes os problemas surgem das pequenas coisas. Quando se começam a casar ou a juntar-se e, consequentemente, aparecem os filhos, netos e sobrinhos. A família aumenta, as responsabilidades e os horários são outros. Nem sempre é possível agendar uma data adequada para o jantar, as férias já não conseguem ser marcadas na mesma altura, o Natal já é dividido e os fins-de-semana já não são exclusivos entre todos. A ausência ou as mudanças radicais provocam afastamentos e deixam marcas, geram a incompreensão e a culpabilização, como se aquele ou o outro tivessem culpa por as coisas não serem como eram. Mas é a vida que dá voltas, é a vida que muda, são as rotinas que se diferem e nem sempre dá para ser como era.
A família é mesmo assim! Vai-se quebrando, afastando e desmoronando, até àquele dia que já mais se conhecem.
É inevitável, as pessoas afastam-se, culpabilizando sempre o outro, como se não tivéssem, igualmente, culpa no cartório. E é na hora da verdade, na hora do aperto, quando mais se precisa que a família (supostamente) unida e coesa não se encontra. Agem como uma de máquina de lavar roupa em fim de vida e com um turbilhão de roupa suja no cesto para lavar.
Não há famílias que não tenham um tanto ao quanto de (des)família.
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