Negligência Profissional e Social


Esta falta de profissionalismo, o descuidado, o desmazelo, o acomodo ao estatuto e ao cargo, este desprezo e fraca realização dos deveres deixam-me inquieta.

São inúmeros os "parasitas" profissionais que se escondem atrás de uma secretária, sentados nas suas poltronas, vendo o tempo passar à espera que aquela celebre hora de ir embora chegue. O trabalho, esse, tem sempre tempo de ser feito, os problemas resolver-se-ão quando se poder e se forem resolvidos sozinhos tanto melhor.


Como Assistente Social, não vou alargar comentários a outras áreas no que toca à desorganização dos seus sistemas. Não o posso fazer quando o sistema social deste nosso país se encontra podre. Sim! Este sistema, que também a mim me compete, é o mesmo que dia após dia se tem demonstrado como um sistema irresponsável, descuidado, desleixado, desorganizado e negligente. 

Todos os dias chegam aos serviços da Segurança Social queixas de maus tratos, negligência, abuso físico e psicológico praticados em serviços e instituições públicas e privadas, dentro de círculos familiares ou em empresas. E adivinhe-se, são mais os processos que são escondidos, abafados e manipulados do que aqueles que são relatados, apresentados, expostos e prontos a ser resolvidos. 
Ao longo dos anos foi-se construindo um sistema "viciado" em que aqueles que são vítimas vivem assombrados sobre o medo de represálias, aqueles que assistem silenciam-se sob a prática de suborno e os que praticam atos abusivos servem-se da fraqueza dos que o rodeia. Para piorar a situação, quando há queixas a ser apresentadas nem sempre caem nas mãos dos profissionais mais exemplares. 

Entenda-se que é geral a degradação profissional dos serviços públicos, desde os cargos mais comuns até aos de maior responsabilidade. É critica a falta de colaboradores para exercer funções nas valências do Estado, mas a grande carência está na fraca escolha de pessoas competentes para exercer os cargos que ocupam. O sector público está infestado de senhores e senhoras doutores(as) que por Convite ou Conveniência (Cunhas) exercem os seus cargos com o intuito dos seus dias passarem, e que passem bem. São-lhes incutido este saber desde o primeiro dia e por ali continuam, é o sistema. Desdobram o seu trabalho em relatórios que não passam de folhas gastas com tinta que, esmiuçado, de lá pouco sai que se aproveite. No final das reuniões que, diga-se de passagem, muitas delas são para mostrar "trabalho", nada se resolve a não ser aquelas horas que já estão passadas. E andamos nisto, dia após dia, semana após semana, mês após mês e os anos vão passando arrastando velhos hábitos e ensinando os novos nesses costumes.

Mas há problemas, e esses têm tendência a piorar. Esses problemas sociais que hoje todos estão a passas-lhes ao lado amanhã será o transtorno da nossa sociedade. Um problema não se trava sozinho mas acelera sem precisar de ajuda. E, quando já não se encontrar a ponta para se pegar a culpa será "deste ou daquele" e nunca de quem tem o dever de procurar respostas ou soluções. O importante é o tempo passar. 

É da responsabilidade de todos apoiar, proteger e acompanhar quem mais necessita mas nem todos tem essa capacidade ou possibilidade. Daí, surgem as respostas sociais, para auxiliar as famílias e aqueles que por diversas razões procuram apoio. São nestas instituições, associações ou centros que atuam, ou deveriam atuar, profissionais especializados em áreas sociais de modo a encaminhar, apoiar, acompanhar e auxiliar todos os seus utentes que por ali passam. Mas nem sempre é assim! E esta é a realidade. 

Quando falamos de idosos, crianças ou cidadãos portadores de deficiência, estamos a referenciar a parte mais vulnerável da sociedade. Para além de serem os que de mais atenção e ajuda precisam são também aqueles que mais fácil é negligenciar. Por precisarem de atenção e acompanhamento redobrado, o trabalho a desenvolver é mais complexo, dinâmico e desgastante, exigindo das equipas esforços físicos e psicológicos mais intensos. E é aqui que se vê os bons profissionais, aqueles que não entram no "sistema podre", não se deixam levar pela monotonia de ver as horas passar mas sim põe em prática o que de melhor sabe. São técnicos que gerem o trabalho de uma equipa inteira, organizam, supervisionam, comunicam, importam-se, procuram melhorar e evoluir, trabalham para responder às necessidades dos utentes e dos que com ele trabalham.
Faz e ensina a fazer, aplica as boas práticas, as boas normas e trabalha em conformidade com a ética e moral de um bom profissional.
É destes profissionais que os nossos utentes precisam e são estes mesmos profissionais que a sociedade em geral merece. Merecemos todos por um bom presente e futuro ainda melhor.
A sociedade precisa de técnicos competentes e capazes de impulsionar novos saberes para que o desenvolvimento social seja progressivo ao invés de assistirmos a uma regressão. 

Ao longo destes últimos anos temos assistido a denúncias comunicadas através dos meios de comunicação social, em que coordenadores, diretores, técnicos, auxiliares e todos os corpos integrantes de certas instituições e associações de cariz social compactuam, direta ou indiretamente, com casos de clara negligencia, abusos físicos e psicológicos, abandono e desrespeito pela integridade física, praticadas em associações e instituições que estão sobre a alçada do Estado. Mas vamos lá voltar ao início da frase, em que refiro que, as denúncias são alertadas pelos meios de comunicação social e são eles os únicos capazes de mover os meios necessários para repreender aqueles que coagem e consentem com as demais atrocidades sociais. A minha questão é simples, porque é que o sistema social só abre inquéritos e investigações quando os problemas são colocados em "praça pública"? Onde estão os técnicos responsáveis pela coordenação e avaliação do desempenho das IPSS's?
As respostas, essas, são incógnitas para muitos, consentidas por outros e realizadas por alguns. 

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