Qual é o teu trabalho? Sou estagiário.


Atenção meus senhores, é o emprego da moda!

Hoje uma empresa já não é "boa" se não tiver por lá um estagiário. 
São centenas os estágios que andam por ai, são milhares os jovens que os procuram e são inúmeros os que se aproveitam da bela mão de obra qualificada a preço de saldo.
Sim meus senhores, é mesmo a preço de saldo e daqueles das ultimas rebaixas. 

Se ainda não aproveitou não se preocupe porque ainda vai bem a tempo de pedir lá aos senhores do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) para lhe arranjar um jovem licenciado ou mestre e com sorte ainda o ajudam a formular uma oferta choruda para o seu lado.

É só escolher, e adivinhe lá, vai ficar mais barato do que o seu funcionário que trabalha consigo à 20 anos e só sabe fazer aquele serviço que aprendeu no dia em que aí chegou.
Conheço imensos jovens, eu própria pertenci à lista, daqueles que diariamente acordam para fazer aquele suposto trabalho que tanto adoram, sempre com o intuito de aprender para além da teoria. 

São os mesmos que todos os dias se entregam ao seu trabalho por amor, por acreditarem que aquilo é apenas o inicio de uma grande carreira.

Por acharem que todo o trabalho que lhes aparece em cima da secretária, na caixa de correio do e-mail e até as chamadas feitas fora do horário de trabalho são entendidas com um sentido de responsabilidade que acabam por descartar todas as hipóteses de abuso de poder e nem entendem que há um aproveitamento daquela boa vontade de quem ainda agora está a começar.

É notável e, eu acredito, que não há ninguém que não queira agradar. 

Afinal de contas, neste mercado exploratório, onde concorre-se aos cargos mais absurdos com ofertas salariais insultuosas, estamos numa do salve-se quem poder.

Mas poupem-me amigos, acho que já chega. 

Já chega de insultarem a inteligência, a franqueza, a boa vontade, o trabalho e a inovação de todos aqueles jovens que, ingenuamente, caem na esparrela daqueles que se querem aproveitar de um mercado fragilizado onde a procura é maior que a oferta, onde não importa o que vales mas sim o que darás de lucro.

Chega de teorias:
  • "tenho de começar por algum lado", então deixa-me que te diga, o lado por onde vais começar é o mesmo onde vais terminar ao fim de nove meses, no olho da rua, na fila do centro de emprego ou à espera que o senhor da papelaria acabe de imprimir os teus novos curriculos;
  • "não é muito mas é melhor que nada", por acaso pensaste nisso cada vez que ligaste aos teus pais a pedir para te transferir os 120€ das propinas, os 150€ da renda, os 70€ das contas da água, da luz, do gás e da internet, os 10€ para carregares o telemóvel, os 60€ semanais para comer, os não sei quantos euros para as fotocópias, para os livros, para imprimires trabalhos, ah! e não te esqueças desta, não é muito mas foram horas, foram noites sem dormir, dias fechados a estudar e a queimar o ultimo neurónio para agora te deixares levar por um "não é muito mas é melhor que nada";
Lamento amigo mas se és estagiário então eu tenho a certeza que estás a ser explorado, estás a quebrar as tuas forças, estás a matar-te por dentro, estás a "flipar", estás prestes a explodir mas, ainda assim tu vais continuar a fazer aquele trabalho afincadamente. E, adivinha lá, vais chegar ao fim do mês e a única coisa que vais levar é o stress diário, a revolta e a angustia, e dá-te como feliz se ainda assim levares no bolso o ordenado mínimo, se assim for, então és um sortudo.


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