A ansiedade de conquistar o mundo aos vinte anos.



Somos seres inquietos por natureza.
Entramos na adolescência com a vontade que os anos passem a correr e os 18 cheguem bem rápido. Passamos o tempo a admirar e a ambicionar o que os mais velhos tem, a liberdade, a voz ativa na sociedade, o carro e até as roupas que ostentam. Mas na verdade não aproveitamos as oportunidades próprias da idade como a inocência, a oportunidade de poder errar, as desresponsabilidades da vida, as pequenas preocupações. Ao invés, ansiamos, desde logo, atingir a maioridade. Tirar a carta de condução, sair até de madrugada, ir às melhores festas, ser reconhecido entre o meio escolar, gerir uma semanada ou até mesmo ganhar o próprio dinheiro e fazer as escolhas que ditarão o nosso futuro.

Os 18 já cá estão e agora é que vai ser!
É num breve instante até nos apercebemos que afinal aquele não seria bem o sonho idealizado.
Passamos o verão a trabalhar para, com aquela pequena fortuna, pagar a carta de condução, mas o carro nem vê-lo. Fazemos os favores à família toda para arrecadar uns trocos para sair à noite, mas dependemos sempre daquela boleia; Os amigos começam a encontrar-se em sítios diferentes, quando dás por ti o teu grupo de amigos já não é o mesmo de sempre; Começas a sentir a pressão das escolhas, o poder de decisão nem sempre é fácil e é agora que o futuro se desenha.
Uns seguem os estudos, outros ambicionam a vida laboral. Querem cedo a emancipação para a vida adulta. E, mais uma vez, perdemos a oportunidade de saborear o sentimento de sermos crianças com um nível acima de responsabilidade, tentamos ser adultos à força quando ainda temos muito por viver.
Ups! Tenho vinte a poucos e nada do que quero.
Querer vencer, querer obter tudo, querer ver e viver, é esta a ansiedade que nos deixa inquietos. 
Sonhei com um posto de trabalho à altura mas não consegui melhor do que aquele trabalho maçador que preenche 10 a 12 horas do meu dia, aquela viagem, pelas capitais da Europa, está adiada à pelo menos 4 anos, o carro é o mesmo de sempre e os amigos mal os vejo. 
Já perdi a conta às vezes que tentei ter uma vida saudável, entre o trabalho e a resposta a anúncios de emprego, pouco me resta para dar aquelas corridas ao final da tarde, para beber um sumo numa esplanada ou até mesmo ler um livro à beira mar. Na verdade, nem para sair tenho tempo! O meu pobre ordenado levou-me o sonho da casa com quatro quartos, atrasa a minha vontade de ter filhos e ainda me prende naquele quarto de adolescente em casa dos meus pais.
Sinto-me cada vez mais velha, sinto o tempo a passar e a minha vida sempre igual. 

E não era suposto eu já ter conseguido tudo?
Eu não sou a única, a bem dizer, eu e os meus amigos sofremos todos desta ansiedade de querer conquistar o mundo aos vinte anos. Talvez queremos aquilo que muitos também já tem. Esta maldita geração que se emancipou, vive tudo antes do tempo e cria expectativas que não são fáceis de alcançar. Há pessoas que tem feito coisas absolutamente brilhantes e cada vez mais cedo. A vida são ciclos, tem etapas e em cada fase há objetivos comuns para todas as pessoas, mas esta mania de querer o futuro faz dos jovens de hoje uns assombrados pelo apetite de querer super vitórias. No entanto, eu vejo hoje aqueles jovens programadores que faturam milhões aos 20 anos, actrizes com carreiras e contas bancárias de sucesso aos 24 anos, futebolistas que somam e seguem aos 20 anos e são cada vez mais os jovens que vingam. Mas mais uma vez eu acuso a mania, a mania do ser humano, de se comparar com os outros e maravilhar tudo o que têm. Daí, olhamos para as nossas vidas com trabalhos comuns, dias comuns, roupas comuns, amigos comuns e nos achamos uns falhados. Mas na verdade não passamos de uns sonhadores.
Como é que podemos querer uma casa de dois andares, 3 filhos, uma carreira de sucesso, um amor para a vida, um carro de trabalho e um topo de gama para o fim de semana, férias em resortes de luxo, uma vida social ativa e uma conta bancária recheada se ainda agora começou a nossa jornada da vida adulta?
Antes de observar os feitos conquistados pelos outros, talvez seja melhor ponderar bem as nossas escolhas.
A sociedade criou estas expectativas de conquistas fáceis, mas isso não é bem assim. Nenhum sucesso vem de coisas fáceis e quando vem sorte de quem o tem. Para conseguir é preciso tentar e mesmo que a gente falhe não importa, havemos de tentar as vezes que forem necessárias para conseguir. E, só assim conquistaremos este mundo e o outro. Não vale a pena desejar o sucesso do outro se não fazemos nada pelo nosso. Talvez as coisas que temos programadas para a nossa vida levem o seu tempo, afinal tudo o que é bom leva o seu tempo a ser conquistado. 
Havemos investir mais tempo na nossa vida do que perder tempo a ver a vida dos outros.

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