Ele é Vermelho, eu visto Azul da cabeça aos pés.


Acho que não conheço, nem sei se é possível haver, alguém que seja totalmente indiferente aos clubes desportivos.
Há sempre um gostinho herdado por um outro elemento da família, há sempre uma simpatia. E não venham com histórias.

Para além destes, que se possam fazer de duros e queiram vender o seu ar de indiferença, há também aqueles que fervem, vibram e se inquietam com o clube do coração.


Jornal de Noticias - 6.11.2016
Cá em casa ele é vermelho doente e eu visto azul e branco da cabeça aos pés.

Não há como negar, a vontade de o pôr fora de casa em dias de jogos do "Glorioso", diz ele, é instintiva. Há um fervilhar, uma tensão, ainda que leve, entre nós. Sabíamos, desde o primeiro dia, que essa era uma das nossas incompatibilidades.

Para que tudo corra bem decidimos criar um limite, um muro do qual não podemos, nem se quer tentar, pular. Este é o nosso tema tabu, não se opina, não se comenta, nem se fala. É tratado como se fosse um sigilo da vida privada de cada um que, depois de ser gerida acaba por ter imensa graça.

Hoje rimos das nossas atitudes e daquilo que fazemos para nos proteger de nos magoar. A febre e a tensão é sempre a mesma em dias de jogos e fora deles também. Mas já há um gostinho especial na nossa troca de olhares.

Há uma regra, que até agora, tem sido inquebrável, em dias de clássico não partilhamos o mesmo espaço. Tu na tua eu na minha, não há misturas.

Aos poucos aprendemos a lidar com a situação, ressalvo que estas medidas foram tomadas porque ambos vivemos demasiado as nossas convicções clubistas. E, depois de nos adaptar, há sempre uma ponta de graça. Há uma antevisão e um pós jogo hilariante.

Muitas vezes disse que já mais arranjaria um namorado que torcesse pelo clube da oposição, muito menos benfiquista. E o destino pregou-me semelhante partida. Não fosse o diabo tecê-las preveni-me logo.
No início era tudo muito constrangedor, lembro-me do primeiro clássico. Olhei para ele e não sabia como começar. Só queria que ele soubesse que não queria ver aquele jogo com ele. Não queria o meu território com alguém que não vestisse azul. Acho que não foi preciso dizer nada, ele estava a sentir o mesmo que eu. E assim foi. Passaram-se semanas até que conversamos sobre aquela decisão tomada através dos olhos. 

Hoje já é ritual.

Hoje sou só eu e Ele.

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